VAMOS A GUIMEL TAMUZ
Por Léo Rosenbaum*
Antes de me tornar "religioso", toda sexta-feira no final da tarde, na região dos jardins, ao voltar do trabalho, observava homens barbudos, trajando capota preta e chapéu, caminhando em direção a sinagoga. Simplesmente não podia entender como, em pleno século XXI, diante de toda a modernidade e evolução tecnológica, havia pessoas que ainda insistiam em guardar costumes que eu considerava ultrapassados, quase similares aos da idade média.
Creio que os rituais e costumes da religião incomodam muitos judeus, pois já que o mundo e o homem evoluem, por que não acompanhar a modernidade, tanto no modo de se vestir como no de interagir com o próximo? Agindo assim, como alguém pode ser aceito pela sociedade moderna?
Entretanto, apesar de que naquela época eu me vestia com o que estava na moda, frequentava lugares badalados, como judeu sempre tive a sensação de que algo estava errado. Faltava algo dentro de mim. Afinal de contas nós judeus, não importa o quanto afastados, sempre mantivemos um sentimento especial com a terra e o povo de Israel. Quem não chora diante do Muro da Lamentações? Quem não se delicia com as comidas judaicas típicas da vovó e aquelas palavras que só tem significado em ídiche?
Quem não vai no dia Yom Kipur a sinagoga mesmo que somente para encontrar amigos e colocar a conversa em dia?
Minha ligação com a religião começou praticamente com um rabino Chabad, Rabino David Azulay, apresentadopor um amigo num evento. Senti muita empatia com o rabino e comecei a frequentar sua sinagoga. Ficamos ótimos amigos.
Certa vez, ele mencionou uma viagem, realizada uma vez por ano, em que se reunem judeus do mundo inteiro, no bairro de Crown Heights, no Brooklyn em Nova York, com o objetivo de homengear a data de passamento do Lubavitcher Rebe. Nesta viagem, me disse o rabino, os participantes são recebidos em casas de famílias. Todos os dias são feitos "farbrenguens", isto é, reuniões regadas com muita comida e le chaims, em que se cantam músicas chassídicas e se contam muitas estórias. E a alegria é tanta que se chega até a dançar em cima da mesa.
Ainda me lembro das palavras do Rabino Azulay: - "Léozinho, você vai adorar a viagem. O Shabat lá é inesquecível...".
Como naquela época meu interesse quanto a figura do Rebe começou a aumentar, procurei ler artigos sobre o Rebe. Estando um pouco mais familiarizado no assunto, resolvi encarar a viagem para Guimel Tamuz.
Posso dizer que a partir daí minha vida mudou. Adorei a viagem, conheci dezenas de pessoas que até hoje são bons amigos e o Shabat lá é de fato inesquecível, conforme havia me dito o Rabino Azulay. Desde então, vou para lá há quatro anos consecutivos, inclusive levando meus pais nos últimos três anos.
Não poderia descrever a viagem em poucas palavras, pois ela é indescritível, pois não só me ajudou a vencer uma série de preconceitos que tinha em relação a religião e aos religiosos em geral, como de fato me fez entender o verdadeiro significado de ser judeu e de encontrar a verdadeira felicidade, algo que realmente me preencheu e me fez sentir especial, em todos os momentos.
Em Guimel Tamuz comecei a entender que ser judeu é um presente divino: fazer parte de um plano Maior e ter a missão especial de ajudar a trazer a presença de D-us a este mundo. Aprendi que respeitar os pais (algo difícil de fazer antes de ficar "religioso") faz parte deste plano Maior; e que o judaísmo é um processo de auto-refinamento e auto-conquista, em que o maior adversário da vida é você mesmo. Passei a entender que não somos donos da verdade, e que para vencermos os obstáculos da vida, devemos sempre encará-los com humildade. Entendi que D-us nos deu de presente um guia completo e perfeito de conduta (nossa Torá). Compreendi que a única maneira de conquistarmos nossos verdadeiros objetivos é através da prática das mitzvót, que nada mais são que um elo de conexão entre os judeus e D-us, cujo cumprimento, sem orientação adequada, pode parecer algo vazio e sem significado. Ainda percebi que para preencher este vazio é preciso se conctar aos ensinamentos do Rebe. Ele enfatiza o amor que devemos ter com cada pessoa de nosso povo, mesmo com aqueles que não conhecemos.
Ao participarmos de eventos, como a alegre viagem de Guimel Tamuz, que acontece todos os anos, podemos nos conectar com a energia e ensinamentos do Rebe.
Enfim, entendi que, como judeus, não devemos nos curvar às regras impostas pela sociedade moderna. Antes, achava um absurdo ver pessoas andando de preto e chapéu nas ruas. Hoje, eu mesmo, participo do Shabat com estas vestimentas, uma maneira especial de me ligar ao Rebe e a seus emissários.
Ser moderno para mim significa ser feliz, ter uma família com valores, receber em casa convidados no Shabat, seguir as orientações do Rebe, que nos ensina que somos parte de um plano Maior e que fomos escolhidos por D-us para esta missão tão especial.
Convido a todos, indistintamente, para um "farbrenguen" lá em casa, enquanto aguardamos ansiosamente o proximo Guimel Tamuz!!!
O próprio Rebe disse que esta geração presenciará diversos milagres e o surgimento de uma nova era, pois somos a geração de Mashiach. Podemos saborear, por enquanto, a energia contagiante dos "le chaim e farbrenguen" de Guimel Tamuz.
Vocês que ainda não foram, o que estão esperando?
* Léo Rosenbaum é advogado formado pela PUC/SP, pós graduado latu sensu em Administração de Empresas pela FGV/SP, com extensão em Finanças e Banking.